terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Coração na boca



Por muito tempo ela acreditou (ou fingiu acreditar) que aquele porto seguro seria capaz de frear seus instintos. Alcançou a tão sonhada quietude ao custo de uma rotina sem palpitações. Desaprendeu o que sabia fazer de melhor. Ou seja, se permitir. Não era infeliz, mas ninguém consegue mastigar uma vida insossa por tanto tempo. Assim como um rastro de pólvora deseja loucamente encontrar uma faísca, todo corpo sem tempero lambe os beiços com um punhado de sal. O tempero chegou na pele do jovem rapaz. Um cheiro bom, que nada tinha de aromas artificias e sofisticados, mas que restituiu à natureza da morena o sagrado direito de se despir sem culpa. O motel a três quadras do pub foi providencial. Sobre os lençóis, dois corpos famintos. Ele com o vigor dos vinte e poucos anos e a fúria de quem tem pressa de viver. Ela, ofegante, suada, sorrindo, feliz. Viva. Outra vez.

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