Era acostumada a dormir na casa de conhecidos, mas uma coisa sempre a
incomodava: abrir os olhos e não reconhecer de imediato o próprio teto. Uma
amiga psicóloga disse que isso era um tipo de fobia. Nada grave (desde que não
atrapalhasse o seu convívio social). Normalmente o processo de adaptação ao
novo ambiente era rápido. Rápido também foi o pulo que ela deu da cama quando
viu a hora no celular. Tinha que voltar pra casa e terminar um maldito freela. Não
era a primeira vez que colocava o prazer antes do trabalho. Nem seria a última.
Do banheiro chegou o grito:
- Você não sabe o quanto eu tava precisando disso!
- Também adorei a noite, baby!
- Eu tô falando do seu chuveiro, bicho besta...
Enquanto o jato d'água
despencava com força, feito sangria de açude, eles riam alto, despertando os
vizinhos do 301 para mais um domingo preguiçoso.