quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A voluptuosa de Lagoa Seca


Grande ela não era. Nem precisava. Aquele corpo compacto já causava um transtorno considerável à vizinhança. Quem mais sofria era dona Isabel. A viúva tinha investido uma grana preta na reforma do imóvel. O problema é que a obra andava a passos de tartaruga. O motivo de tanta lerdeza só veio à tona quando ela casualmente cruzou com a morena da motoca. Foi aí que descobriu a causa da colossal improdutividade. Se para a ingênua senhora a ficha caiu naquele início de tarde, para os funcionários da construção o "ócio contemplativo" era uma atividade corriqueira e prazerosa.

O ronco do escapamento era o sinal para que serventes e pedreiros largassem as ferramentas e corressem para os seus postos de observação. Sobre a laje inacabada eles acompanhavam com olhos de lince cada movimento da moça. Da retirada do capacete até a entrada no escritório. E, cá entre nós, desviar o olhar daquelas coxas torneadas e do decote banhado de suor seria um ato de indelicadeza. Ela ria. Um sorriso gostoso de quem é cúmplice de um assassinato sem vítimas ou culpados.

Mas era engraçado como eles paravam no tempo, como perdiam o prumo descaradamente. Aliás, de tanto prumo perdido uma das paredes do primeiro andar saiu completamente fora de escala. Essa é uma questão menor. Pior é dizer para Dona Isabel que a morena decidiu ontem entrar na academia do bairro.


domingo, 5 de dezembro de 2010

Acesa


Foto: Deviantart

Cada ser humano é uma fonte de eletricidade. E nessas minhas andanças pela madrugada sempre reservo um tempo para observar essa energia invisível em ação. Assim como há bem-humorados e ranzinzas, há também quem ilumine corações ou produza energia suficiente apenas para manter um bico de luz em funcionamento. Naquela noite ela estava diferente. Tinha fome de vida e uma capacidade surpreendente de criar campos magnéticos.