Eu não tive um sonho revelador, não ouvi vozes e nem tampouco presenciei um clarão no céu. O sinal veio diretamente das mãos dela, sem intermediário. Era uma carta (com frente e verso!). Pediu que eu abrisse só depois de sua saída. Obedeci. Esperei ela abrir a porta pra só então rasgar com cuidado o envelope. O perfume salpicado na folha foi uma estratégia bem elaborada. Mas o que estava em minhas mãos iria me tirar do prumo como um velho trem descarrilado. Comecei a ler em pé, encostado no balcão, mas depois de alguns segundos os joelhos dobraram com o peso dos parágrafos. Fui obrigado a sentar, caso contrário, nunca chegaria ao ponto final. Pedi uma dose de volúpia. Depois mais outra. Em seguida, uma terceira. O garçom não se conteve e puxou conversa:
- Dia difícil?
- Não, não
- Mas tanta sede, em tão pouco tempo, deve ter uma razão...
- É que eu acabei de descobrir o amor em letras graúdas. Sabe, meu velho, isso assusta. Principalmente para quem passou a vida inteira sozinho, à sombra dos outros, amaldiçoado pelo manto negro da invisibilidade.
5 comentários:
Os joelhos se dobraram frente aos versos. "Os joelhos dobraram com o peso dos parágrafos."
PQP!
Isso resume o quão eu gostei?
Escreves tão puro e sincero. Sempre que acabo de ler um de seus textos fico com aquele gostinho de "Quero mais." É um perigo visitar o seu blog porque, quando visito, não paro de ler.
Ótimo texto, Marcelo.
Uau!
Maravilha!
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