domingo, 24 de abril de 2011

Formato Mínimo



Nunca soube demonstrar interesse. Não era por maldade, frigidez ou charminho. Era o jeito dela. E ponto. Os amigos cobravam mais efusividade, os amantes exigiam frases de entrega e devoção e a família pedia doses extras de afagos públicos e explícitos. Mas apesar de tantos apelos ela continuava a amar discretamente, querer sem histeria, cobiçar sem ganância, paquerar sem alarde, se entregar sem exageros. Na realidade, ninguém sabia o quanto aquela mulher queimava por dentro (a não ser o seu gastroenterologista que descobriu semana passada a causa do maldito refluxo incendiário). Sexta-feira, num impulso sentimental, eu expulsei o que estava guardado no peito há meses: eu gosto muito de você! A resposta chegou como um tiro: ok! E antes que eu reclamasse da economia das palavras ela completou sorrindo: Não se assuste, moço. O amor nem sempre é enxurrada.

8 comentários:

Priscila Adélia disse...

Triste de quem não tem o amor como enxurrada.

Lua Adversa disse...

Econômica, a moça. =)

Anne Carol disse...

Uau! Belo texto, amigo.

Lá e de volta outra vez... disse...

Nossa Panela, que frase do caralho, reflete muito bem algo que sempre tentei definir sem sucesso. Comentarei via msn com tu qualquer dia desses.

E como a menina que fez o primeiro comentário, já concordei com ela alguns anos atrás. Hoje percebi que existem amores que não são enxurradas que valem muito a pena.

Sempre um deleite te ler, meu amigo.

A Princesa do Castelo disse...

Sempre vale a pena ler os seus escritos!

Anônimo disse...

Que texto, heim?! Virei sua leitora assídua! Que bela construção: "ela continuava a amar discretamente, querer sem histeria, cobiçar sem ganância, paquerar sem alarde, se entregar sem exageros...". Me orgulha de ser sua amiga. Bjo, Ana.

Nomundodalua disse...

Muito bom!! e concordo com ela, nem sempre é enxurrada..Com esse texto, eu super me identifiquei :D

DÉBORA disse...

Essa sou eu! Sabe quando vc se vê diante do espelho? Foi assim... Ótimo texto!