domingo, 24 de julho de 2011

O acaso e seus caprichos

O nosso primeiro encontro poderia ter começado de forma mais romântica. Um esbarrão casual no corredor da livraria seria perfeito. Livros ao chão, pedidos de desculpas e elogios sobre a escolha literária de cada um. Outra opção, não menos inspiradora, seria a última sessão de cinema. Os dois chegando simultaneamente na bilheteria, atrasadíssimos e esbaforidos de tanto correr. Em cartaz, Woody Allen, claro. Depois de atravessar a roleta eu diria: “essa foi por pouco!”. O sorriso dela seria a deixa para alinhavar a frase seguinte. Mas o acaso tinha outros planos para nós dois. Nos conhecemos em uma birosca na cidade baixa. Altar dos boêmios, ninho dos bêbados, palco da malandragem. O nosso maior luxo foi uma cerveja quente servida no copo de plástico. Mas naquela noite eu não queria merecer outro lugar. Por isso, antes de dormir, cruzei os dedos e pedi que ela me reconhecesse amanhã ou daqui a um mês. Ela fez mais do que isso. Largou os amigos na calçada, desviou de cadeiras, mesas, garçons e bandejas, enfrentou a euforia de uma pequena multidão, pediu licença, desculpe, obrigada, empurrou, foi empurrada, deu rabissaca e até um bicudo discreto na canela de uma loira, por fim, me encontrou no lado mais escuro do bar. Não deu boa noite, decidiu primeiro recuperar o fôlego nos meus braços.

7 comentários:

Luciana Luz disse...

Tô de mal com o acaso, pelo menos por hora, gosta de brincadeiras sem graça... :(

Isabela Santos disse...

Uaaaaaau!

Marcela Ohana disse...

me identifiquei? kkk

Andorinha disse...

Você escreve de uma maneira que deixa a transparecer que escrever é uma coisa simples de se fazer. Mas não é, mesmo assim, você me passou essa visão. Gostei da sua simplicidade e do caso retratado.

Nomundodalua disse...

hmm, super gostei do texto :)
já imaginei altas vezes encontros em livrarias e cinema iuhiudhduihdiuhdui
:) x)

ZOCA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
michele disse...

bom demais panelovisky!!!!!