sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um novo perfume

Foto Deviantart

Eram incapazes de identificar notas de jasmim, canela, sândalo ou gardênia, mas mesmo assim insistiam em descobrir a fragrância da ruiva sentada na cadeira ao lado.

- Isso é perfume francês, mané!

- Boy, pode ser até sabão de coco. Não faz diferença. Ela é gostosa de todo jeito.

Enquanto a inútil discussão rolava na mesa a garçonete enchia as tulipas. Retirou a garrafa vazia e voltou para o balcão. Ficou a esperar o aceno de um novo cliente, o pedido da madame, a exigência de um boçal qualquer. Na mão direita, lápis e papel, no pensamento, um desejo quase insano de sobrevivência: tirar da pele o maldito cheiro de roupa guardada.

domingo, 12 de setembro de 2010

Eu e mais ninguém


Velha amiga, hoje a madrugada está mais silenciosa. Estranhamente Shazam não perseguiu o gato preto. A moça do crack ainda não passou com o seu vasto repertório de palavrões e o meu vizinho insone adormeceu sem derrubar nenhum prato. Estou me sentindo um bocado só (apesar do Orkut atestar categoricamente que eu tenho quase 400 amigos). Queria te contar sobre a maldição de ser transparente e o peso que é carregar esse vazio nas costas por tanto tempo. Aprendi a curar minha ressaca com chá de boldo. Mas nunca me explicaram o que fazer com a solidão. Esse é o tipo de hemorragia que não estanca com band-aid.