
Para os Malhados
Deus criou o mundo em uma semana. Mas foi no quinto dia que ele subiu no monte e disse aos discípulos: galera, sexta-feira é dia de abrir os caminhos. Domingo a gente descansa. Foi aquele alvoroço na Galileia. Daquele tempo pra cá nada mudou. Quando o relógio marca 18h é cada um por si e todos com o mesmo pensamento: deixar as aflições, problemas e aporrinhações do trabalho para trás. De preferência, trancadas na gaveta, dentro do armário, no HD do computador ou debaixo do tapete.
O boêmio tinha conhecimento das escrituras sagradas. Mas naquela sexta-feira, por ordem médica, bebeu coca-cola. Sentiu um leve tremor nas mãos. O polegar e o mindinho ainda tentaram largar o líquido estranho, mas ele jurou ao homem de jaleco branco que iria cumprir a risca suas orientações. Pediu mais uma lata. A tristeza aumentou. Até ficar mufino foi um pulo. Não era digno de estar naquela mesa. Pediu desculpas aos amigos de copo e coração. A solidariedade chegou em forma de mensagens fraternas, encorajadoras e reconfortantes:
- Antes coca-cola do que Nova Schin, seu farsante!
- Eu tô grávida e tenho desculpa. Mas você... Tsc.. Tsc... Que decepção!
- Você surtou? Como isto foi acontecer?
- Por favor, nem comente que me conhece!
Pagou a conta e caminhou até o ponto de taxi. Subiu a ladeira sorrindo. Não se faz amigos bebendo leite.