Grande ela não era. Nem precisava. Aquele corpo compacto já causava um transtorno considerável à vizinhança. Quem mais sofria era dona Isabel. A viúva tinha investido uma grana preta na reforma do imóvel. O problema é que a obra andava a passos de tartaruga. O motivo de tanta lerdeza só veio à tona quando ela casualmente cruzou com a morena da motoca. Foi aí que descobriu a causa da colossal improdutividade. Se para a ingênua senhora a ficha caiu naquele início de tarde, para os funcionários da construção o "ócio contemplativo" era uma atividade corriqueira e prazerosa.
O ronco do escapamento era o sinal para que serventes e pedreiros largassem as ferramentas e corressem para os seus postos de observação. Sobre a laje inacabada eles acompanhavam com olhos de lince cada movimento da moça. Da retirada do capacete até a entrada no escritório. E, cá entre nós, desviar o olhar daquelas coxas torneadas e do decote banhado de suor seria um ato de indelicadeza. Ela ria. Um sorriso gostoso de quem é cúmplice de um assassinato sem vítimas ou culpados.
5 comentários:
ha ha ha... adorei!! Bem ao estilo Nelson Rodrigues!!!
cara, vc leva mais que jeito! Muitooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo bom!...
Concordo com Uli, muito Nelson Rodrigues. Mt bom.
Beijo
Os caras da construçao sao ótimos para aumentar a nossa autoestima.
Dona Isabel, no fundo, fica com um pouco de inveja. hahaa
Gostei do texto.
beijos
E nas suas graças até cantada de pedreiro me faria ficar anestesiada de tanto prazer. Só me diz uma coisa: "Essa morena tá ruiva?".
Postar um comentário