O respeito sabotou por décadas a vida daquele homem. A escassez de atrevimento fez dele um covarde, um “bunda mole”, um mané. Uma criatura sem ímpeto, ousadia, determinação, coragem. Nunca teve a decência de assumir riscos. Pelo menos até o dia em que ele viu Fernanda dormindo. Era reveillon e o ano velho já tinha ido embora junto com várias latas de bohemia. Enquanto a alegria entorpecia mentes e corações no jardim, ele preferiu ficar na sala, de olhos grudados na mulher deitada sobre o mármore. Estava prestes a cometer uma loucura que poderia desestabilizar anos de amizade.
O experiente cronista tinha razão: o álcool acorda velhos sentimentos e acende os pecados como numa noite de festa. Por isso avaliou serenamente as possíveis conseqüências que iria sofrer logo após o seu plano entrar em prática. Precisava desesperadamente de um apoio moral para justificar aquele desatino. O apoio veio com a frase do poeta espanhol Félix Lope de Vega: a felicidade é o preço da audácia. Fez daquele pensamento o seu mantra. Só não sabia exatamente qual seria o preço daquela ousadia. Receberia uma tapa na cara seguido de um retumbante “filho da puta!” ou um sorriso sacana, do tipo “Que delícia!”?
Pela primeira vez na vida apostou cegamente suas fichas. Deslizou sorrateiramente a mão entre as coxas morenas e macias de Fernanda. Ela abriu os olhos devagar e perguntou com voz de sono:
- O que você tá fazendo?
Ele, cabisbaixo e constrangido, pediu uma dúzia de desculpas. Estava tão envergonhado diante da situação que a única coisa que queria era sumir daquela sala imediatamente. E foi o que fez. Mas depois de alguns passos ouviu um sorriso gostoso e o convite que o trouxe de volta:
- Você não vai terminar o que começou?
Ele deu uma risada e sem nenhuma cerimônia começou a masturbá-la. Enquanto ela gemia e arqueava de prazer, ele sugava e mordia seus seios fartos. Seios que por tantas vezes povoaram seu imaginário erótico. Aproveitou para ir mais longe. Navegou de olhos fechados até ancorar na flora negra. Um recanto que ele fez questão de explorar com a língua, sem pressa, como se quisesse cristalizar no tempo aquela arriscada e gostosa libertinagem. Ela gemia alto, mas não o suficiente para chamar a atenção dos amigos. Amigos que naquele exato momento gritavam no jardim o seu refrão preferido:
“Deixe-se acreditar
nada vai te acontecer
tudo pode ser
nada vai acontecer, não tema
esse é o reino da alegria”
12 comentários:
Só digo uma coisa... Esse mármore rendeu demais!!
Adorei!!!
Bjim... ; ))
Adorei o conto também! Não esperava palavras tão atrevidas, como a sua promessa de ano novo! Gostar de escrever é isso mesmo: fazer mágica com uma simples situação. Beijo pra esse contista querido!
Um verdadeiro e puro reino da alegria.. :)
Que conto galado da porra!! hahahaha
Meu amigo!! Não sabia q vc escrevia tão bem. Achei massa! Mas diga-me uma coisa? Quem é essa Fernanda na vida real?? Qual das malhadas???
o mundo todo conspirou para que ele seguisse em frente com seus intentos deliciosos.
Olha, só devo dizer que estou emocionada de tanto prazer em ler este conto. Fico excelente (rs). Eu também não esperava que seria tão atrevido.
'A mulher deitada sobre o mármore' entra na lista dos meus preferidos.
Só devo dizer mais uma coisa: ô ano novo pra render (rs)
Beijocas.
Hummmm...esse teu lado ousado e pecaminoso, que ultrapassa a ficção e penetra na realidade REALMENTE combina mais com você, meu amigo! A sua versão mais rodriguiana é a mais marcelina! Hahahahah
Obrigada pela vista no meu blog :) Devo dizer que em todas as visitas que fiz ao seu, não fui desapontada uma sequer vez, parabéns pelo talento.
;*
Caramba! O negócio tá esquentando por aqui...será o verão?
Adorei o texto!
Beijão Panelovski
marceleza, meu véio: SENSACIONAL! cê sabe que eu não escrevo nada com maiúsculas, mas nesse caso me sinto na obrigação. M.
Homens não deveriam escrever textos assim. Nós, mulheres, acabamos acreditando tanto em quem escreve e quanto no que é escrito.
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