domingo, 18 de janeiro de 2009

O primeiro passo

-- Pai, como se conquista uma mulher?
-- Seja atencioso com ela, meu filho. Sempre.
-- Só isso basta?
-- Não. Mas será um começo magnífico.

domingo, 4 de janeiro de 2009

A mulher deitada sobre o mármore

O respeito sabotou por décadas a vida daquele homem. A escassez de atrevimento fez dele um covarde, um “bunda mole”, um mané. Uma criatura sem ímpeto, ousadia, determinação, coragem. Nunca teve a decência de assumir riscos. Pelo menos até o dia em que ele viu Fernanda dormindo. Era reveillon e o ano velho já tinha ido embora junto com várias latas de bohemia. Enquanto a alegria entorpecia mentes e corações no jardim, ele preferiu ficar na sala, de olhos grudados na mulher deitada sobre o mármore. Estava prestes a cometer uma loucura que poderia desestabilizar anos de amizade.

O experiente cronista tinha razão: o álcool acorda velhos sentimentos e acende os pecados como numa noite de festa. Por isso avaliou serenamente as possíveis conseqüências que iria sofrer logo após o seu plano entrar em prática. Precisava desesperadamente de um apoio moral para justificar aquele desatino. O apoio veio com a frase do poeta espanhol Félix Lope de Vega: a felicidade é o preço da audácia. Fez daquele pensamento o seu mantra. Só não sabia exatamente qual seria o preço daquela ousadia. Receberia uma tapa na cara seguido de um retumbante “filho da puta!” ou um sorriso sacana, do tipo “Que delícia!”?

Pela primeira vez na vida apostou cegamente suas fichas. Deslizou sorrateiramente a mão entre as coxas morenas e macias de Fernanda. Ela abriu os olhos devagar e perguntou com voz de sono:

- O que você tá fazendo?

Ele, cabisbaixo e constrangido, pediu uma dúzia de desculpas. Estava tão envergonhado diante da situação que a única coisa que queria era sumir daquela sala imediatamente. E foi o que fez. Mas depois de alguns passos ouviu um sorriso gostoso e o convite que o trouxe de volta:

- Você não vai terminar o que começou?

Ele deu uma risada e sem nenhuma cerimônia começou a masturbá-la. Enquanto ela gemia e arqueava de prazer, ele sugava e mordia seus seios fartos. Seios que por tantas vezes povoaram seu imaginário erótico. Aproveitou para ir mais longe. Navegou de olhos fechados até ancorar na flora negra. Um recanto que ele fez questão de explorar com a língua, sem pressa, como se quisesse cristalizar no tempo aquela arriscada e gostosa libertinagem. Ela gemia alto, mas não o suficiente para chamar a atenção dos amigos. Amigos que naquele exato momento gritavam no jardim o seu refrão preferido:

“Deixe-se acreditar
nada vai te acontecer
tudo pode ser
nada vai acontecer, não tema
esse é o reino da alegria”