terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Diário de Bordo


Foto: Uliana Fechine

Foi preciso alguém gritar “solta as amarras!” para ela finalmente entender que era hora de levantar âncora e explorar novos portos. Começou pelos inseguros. Afinal, de previsibilidade já bastava aquela rotina massacrante, o percurso para o trabalho, a sequência de exercícios na academia e o alface na salada. Por que se contentar com a ilhota ao lado se a embarcação tinha autonomia para chegar ao continente? Aqui do farol eu vejo suas manobras. Algumas cheias de ousadia, graça e sensibilidade, outras na base da força e perseverança. Não vou questionar o poeta, eu sei que navegar é preciso. Mas tão importante quanto isso é manter o leme firme e possuir um coração disposto a cometer (sempre que necessário) desatinos em nome de uma boa aventura.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A negociação

Diariamente o nosso olhar esbarra em retinas alheias. O perigo (ou seria sorte?) é quando ele cristaliza, quando entrega de bandeja nossas intenções a um estranho. Lembro bem quando ela chegou (acompanhada de mais três amigas) e pediu uma cerveja ao dono da birosca. A última garrafa estava na minha mão. Uma Nova Schin, quente e cobiçada. A negociação foi tensa, olho no olho, gota a gota. Eu, irredutível, ela, determinada. Talvez a Ribeira nunca tenha testemunhado um duelo por tão baixo valor (e teor). Mas nós dois sabíamos que dinheiro não era problema naquela madrugada. Só queríamos beber para expulsar os demônios. A espuma no copo selou o impasse. Deixou para trás um nome, um sobrenome e um muito obrigado. Confiei nela, na minha memória e nas ferramentas de busca. O rastro digital me levou a uma janela branca, com moldura azul. É de lá que eu recebo notícias e espero pacientemente por um novo encontro livre de barganhas.