domingo, 28 de fevereiro de 2010

Abra os braços pra me guardar


Foto/ilustração: Julie Daniel

Cada louco com a sua mania. Eu também tenho uma: classifico os abraços que recebo. Na realidade, eu tenho uma lista dos melhores “abraçadores”. Um ranking que eu faço sem levar em consideração tempo de amizade ou intimidade. Infelizmente não é todo mundo que consegue receber outro corpo na mesma sincronia, energia e plasticidade. Por isso abraçar é uma arte. E há cinco mulheres que me tiram do chão (em mais de um sentido) cada vez que nossos corpos se encontram. Por um instante o criador puxa o freio de mão e tudo ao nosso redor fica em slow motion. O encaixe é tão perfeito que não há espaço vazio. Por mais que os carros buzinem, os amigos gritem, os celulares toquem e os namorados façam cara feia, ainda assim, estaremos colados. Sem pressa, reservas ou cerimônia. E para minha alegria uma morena de sorriso farto está prestes a entrar para o time. Darei a notícia da melhor forma possível: no conforto dos seus braços, sob o manto sagrado da madrugada e ao som de um samba antigo.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Selvagem

Ilustração: Nilsy

Foi batizado aos 15 anos. Quase um bicho do mato. Mas teve o privilégio e a honra de crescer sob a proteção de seis corações incríveis. Aprendeu a tabuada, a pedir licença antes de entrar, a subir na velha goiabeira de olhos fechados, a chorar sem dor, a escrever o próprio nome. Ontem foi visto remexendo escombros. Maldito selvagem. Por que ainda insiste em viver de migalhas se tuas mãos desajeitadas já conseguem segurar com firmeza a faca e o queijo?