Ela sempre ganhava o primeiro pedaço de bolo. Um ritual sagrado e previsível. Antes mesmo da faca cortar o recheio os amigos já sabiam o destino daquela fatia. O que eles não sabiam é que por trás daquele gesto existia uma história de perdas, ganhos e muito, muito, muito aprendizado. Soprou todas as velas. Não pediu grana, novas paixões, nem saúde de ferro. Apenas sussurrou numa frequência inaudível: Que o primeiro pedaço do meu bolo sempre encontre tuas mãos abertas. Se isso não for amor o que mais pode ser?
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
O primeiro pedaço
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Coração na boca
Depois de desligar o telefone ele desceu a ladeira como bloco de carnaval: eufórico. Correu para os braços da única mulher que o aceitou sem cerimônias. A longa tira de asfalto parecia não ter fim, mas nem por isso diminuiu o ritmo. As pernas longas e finas finalmente tiveram alguma serventia. Deixou para trás bêbados, guardas noturnos, prostitutas, três sinais, um cachorro, dois churrasquinhos e o carro do lixo. Chegou ao destino em tempo recorde, mas aquela arrancada foi fatal para os pulmões. Desabou no banco da praça. Exausto, exaurido, acabado. Foi aí que ela chegou.
- Oi!
- Eu vim o mais rápido que pude...
- Nossa! Você tá quase infartando!
- Tava com muita saudade...
- Calma. Primeiro recupera o fôlego.
- Eu queria que você soubesse...
- Não fala mais nada. Silêncio. Deita um pouco aqui no meu colo. Aquieta o coração. Temos todo o tempo do mundo, menino.
[EDITADO]