terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sobrevivência


De tanto voltar para casa de mãos vazias ele desenvolveu um estilo próprio de conduzir a vida. Instituiu a política da não expectativa. Desde então a frustração ficou mais leve, o fracasso mais amigo, a solidão mais reconfortante. Até sorriu depois de levar um “não” retumbante durante o fim de semana. A amiga, que testemunhou a atuação desastrosa do magricela, perguntou com a sinceridade de quem ainda não sabe calibrar o peso de um discurso:

- Como você pode viver por tanto tempo sem ter alguém a quem segurar a mão?

Ensaiou uma resposta, mas só saiu silêncio. Pagou a conta, beijou o seu rosto borrado de maquiagem e suor e caminhou em direção a porta de saída. Para o grande público era apenas mais um homem feliz voltando para casa depois de uma noite de diversão. Tolos. Nem imaginam que aquele sorriso foi a única maneira que ele encontrou de viver na pior.