domingo, 26 de abril de 2009

Encantos da Cidade Baixa

Foto: Canindé Soares

Cruzou a longa tira de asfalto como uma descarga elétrica. Fulminante. Cortou sinais e infringiu leis, como se estivesse fugindo de mil demônios. Realmente estava, mas para exorcizá-los precisaria muito mais que uma bíblia, água benta e versículos em latim. Por isso escolheu um templo a céu aberto, sem altar, lustres e vitrais. A rua estreita e mal iluminada, a multidão e o seu burburinho, risos fartos, olhares libertinos, coxas, quadris, decotes e pescoços esperando por uma mão carinhosa e atrevida. A cidade baixa era o seu segundo lar. Bebeu para abrir os caminhos, abraçou velhos amigos, gargalhou sem cerimônia e sambou nos paralelepípedos cobertos de história. E quando já parecia estar saciado eis que surge a moça de pele clara. Aqueles olhos verdes denunciavam claramente a sua intenção. Entrou em pânico. E numa atitude desesperada o boêmio, visivelmente nervoso, sussurrou para o amigo do lado:

- O que eu faço agora?

O beijo da moça chegou antes da resposta. Assim como a chuva que começava a cair sobre o antigo casario.