Enquanto o tomate padecia sob a lâmina afiada ele ouvia os conselhos e considerações da garota de avental. Sempre pertinentes, articulados, serenos. Poderia passar o domingo inteiro encostado na bancada. Assistindo a escolha dos temperos, a medida certa das porções, o domínio da nobre arte de produzir água na boca alheia. Havia muita doçura naquelas mãos caprichosas. Entre sorrisos, aromas e condimentos ela falou:
- A vida exige uma certa urgência, meu rapaz.
Logo em seguida a primeira lágrima caiu. Depois outra e outra e outra. Não era um choro de tristeza, piedade ou nostalgia. Apenas o reflexo de uma cebola recém-cortada tentando chamar a nossa atenção.