sábado, 20 de dezembro de 2008

Canibalismo


Ele bem que tentou fixar a retina no fundo do copo, no suporte do guardanapo, nos pés, no trânsito, na fila do banheiro, no vazio. De nada adiantou. O olhar sempre findava naqueles olhos negros. Ela percebeu o interesse do rapaz. Por isso maltratou o pobre indivíduo o quanto pode. Como era possível tanto sadismo dentro de um corpo tão pequeno? Na despedida virou o rosto. Ele entendeu a deixa (era uma deixa?) e prontamente fez daquele pescoço o seu banquete. Os freqüentadores do bar, diante do ato explícito de canibalismo, reagiram com indiferença. Simplesmente continuaram a mastigar churrasquinhos de carne e frango. Imaginando talvez o gosto e o tempero daquele pescoço suculento e macio. Daquela carne cravada por dentes alheios.