sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Da série: resgatando anotações

Ninguém disse a ela que o desejo ardia. Aprendeu na pele e com tempo. Também nunca foi de lutar contra as tentações. Pelo contrário. Não sentia culpa alguma em satisfazer seus instintos. Sempre deixou isso bem claro para os amigos e amantes. Ás vezes não era bem compreendida. Mas como agradar gregos, troianos e potiguares? Preferia ser honesta com os próprios sentimentos. Afinal, o desejo sempre foi seu estandarte de êxtase e libertação. E ponto. Naquela noite ela trazia no pára-brisa do seu Fiat um adesivo com palavras explícitas de Rousseau: Eu senti antes de pensar. Assim como um arauto anunciando a chegada e as intenções do seu mestre.

domingo, 24 de agosto de 2008

De passagem...


Mais uma vez estava diante de um mundo que não era o seu. Sorria, disse ela. Ele tentou, mas aquilo tudo era tão distante da sua realidade. Gostava de pessoas, mas a paciência dava sinais de esgotamento. E o silêncio foi chegando, chegando, até travar o seu maxilar. Era hora de voltar. Voltaram. Cada um para o seu universo particular. Terminaram a semana felizes para sempre.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Ele sucumbia ao pânico, ela descansava lívida.

Dois perdidos numa noite suja. Esse era o título da música que tocava quando ele começou a castigar as teclas. A noite já estava alta. O suficiente para trazer o silêncio que ele tanto queria, para embalar o sono dos bêbados e casais de namorados que, de vez em quando, insistiam em brigar embaixo da sua janela. Conferiu a sua caixa de e-mail, os scraps e as últimas notícias. O corpo ainda queimava por dentro. Começou a rir da própria vulnerabilidade e da sua inútil experiência de mais de três décadas. Listou as tarefas pendentes e pediu a Deus serenidade. Só não disse amém antes de dormir porque sabia que o todo poderoso não aprovaria suas terceiras intenções. Mesmo assim adormeceu com um sorriso escroto de cobiça e perversão.